Dorotéia é uma ex-prostituta que procura na família uma forma de se redmir da vida que levava e da morte do filho. Lá, encontra sua prima, D. Flávia, mulher feíssima, que impõe condições para a sua permanência, em meio as bodas da filha Das Dores e de manter a casa e as parentas igualmente feias, Carmelita e Maura, na mais perfeita ordem. E sem sonhos.

A peça faz parte, assim como Anjo Negro, Senhora dos Afogados e Álbum de Família, dos textos míticos que Nelson escreveu entre 1946 e 1949, causando polêmica e trazendo de uma vez por todas, a fama de “maldito” que o dramaturgo sempre teve.


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Nonoca, a peça que nós dois sonhamos juntos..."





Para Nelson Rodrigues não há símbolos, há uma realidade profunda na qual acredita compaixão e que procura transmitir com desespero.
Em Dorotéia a concepção do drama humano, a fatalidade da reabsorção da vida pela morte, vai-se insinuando através de descobertas que não se esgotam em si mesmas e tendem a revelar, pelo acúmulo e o progresso, a contradição inerente à própria vida




Uma casa sem quartos, três mulheres que não dormem para não sonhar, uma menina noiva de um par de botas e uma linda prima distante que precisa ficar feia para se redimir dos seus pecados. Com uma história assim, Dorotéia, a primeira "farsa irresponsável em três atos" de Nelson Rodrigues, não poderia mesmo fazer muito sucesso no Brasil dos anos 50. A direção de Ziembinski e os cenários de Santa Rosa tentaram minimizar a temática "absurda" da peça instituindo no palco um clima de tragédia clássica. Não adiantou: ninguém gostou; público e crítica foram unânimes nas agressões.

Nelson Rodrigues escreveu Dorotéia para sua mais nova paixão, a cantora lírica Eleonor Bruno, chamada por ele de Nonoca. A amante do autor interpretaria a personagem título, uma mulher linda e mundana que volta arrependida para a casa das primas velhas, feias e reprimidas. Dedicou a ela, secretamente, como "a peça que sonhamos juntos". Dorotéia marcou também a estréia de Dulcinha Rodrigues, irmã de 21 anos do autor, nos palcos.
A esperada estréia aconteceu em 7 de março de 50, no teatro Fênix do Rio, e foi um fracasso retumbante. "É o maior fracasso do Ocidente. Nem minha mãe gostou", chegou a dizer o dramaturgo. Dorotéia ficou apenas treze dias em cartaz e ninguém entendeu aquele teatro de vanguarda, repleto de absurdos que antecipavam o teatro do absurdo de Ionesco. Uma pessoa, porém, iria assisti-la, encantado, cinco vezes naquela temporada: o aprendiz de jornalista Paulo Francis, ainda sem nenhuma influência sobre a intelectualidade da época. Atualmente, porém, a discussão profunda de Nelson Rodrigues sobre a sexualidade humana e a repressão fazem de Dorotéia um clássico da dramaturgia brasileira moderna. Para muitos, é simplesmente a peça mais genial do autor. 

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